terça-feira, 17 de setembro de 2013

MUSEU DE GERRA







Era dia de visitar o museu com a turma do colégio e todos estavam empolgados, menos eu. Só de entrar já dava para sentir um clima carregado na atmosfera. Na sala da segunda guerra mundial, comecei a me sentir pior. Ao bater os olhos nos objetos dos soldados eu já comecei a ver as cenas de horror dos campos de batalha.
-Vamos, não estou me sentindo muito bem. Professor, quero sair deste lugar...
Quando nos dirigíamos para a saída, a porta subitamente se fechou e fiquei preso sozinho. Tudo ficou cinza. Ao meu redor só ficaram os bonecos de cera com uniformes camuflados e a artilharia pesada apontada para mim.
-Ei, não me deixem aqui sozinho. Cadê vocês?
Fiquei forçando a porta, em desespero para fugir, quando uma voz disse às minhas costas:
-Desertor! Aonde pensa que vai?
Virei-me para ver quem havia dito aquilo, prevendo ser algum amigo me assustando, e um soldado estava ali, em pé, com várias perfurações pelo corpo e sangue coagulado na roupa. Segurava uma metralhadora e parte de seu rosto estava com terríveis queimaduras.
Eu corri para a outra porta, mas ela também estava trancada. O soldado continuou a me ameaçar:
-Não pense em fugir!
Ele vinha em minha direção apontando a arma, e desesperado eu gritava para que alguém me salvasse.
-Salvar você?
Dava para sentir o cheiro de carne queimada conforme ele chegava mais perto.
-Você não me salvou quando podia, soldado. Eu morri por sua causa!
-Não! - gritei. -Eu sou só um menino, nunca lutei em nenhuma guerra. Por favor me deixe ir...
Ele ainda insistiu:
-Você não lembra, mas eu sim. Era você quem devia me cobrir para me proteger do fogo inimigo, mas ficou parado lá, como um covarde, e eles me acertaram. Você vai pagar por isso!
Foi então que me lembrei de alguns sonhos que eu tinha constantemente, sobre abandonar um amigo à morte em um campo de guerra.
De repente tudo ficou escuro e desmaiei. Acordei com o professor sobre mim, me reanimando, enquanto meus colegas riam e faziam piadinhas.
-Você está bem? O que aconteceu?
Eu estava caído exatamente ao lado da foto em preto e branco de dois jovens soldados sorridentes exibindo suas armas. Havia uma frase escrita à caneta sobre o papel fotográfico: "Irmãos para sempre - 1942".
Posted by L.F. Riesemberg


           

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

SORTE NO AMOR




Alguns diriam que Sarah não tinha muita sorte no amor, mas ela encarava de uma forma pior. Dizia-se amaldiçoada. Desde muito jovem, toda vez que se interessava por alguém, algo ruim acontecia. Rompimentos sem explicação, sem despedidas, traições e morte do companheiro. Ainda não havia se recuperado do acidente mal esclarecido que lhe tirou o Amyr quando o seu mais novo amigo, em quem ela tanto confiava, simplesmente desapareceu de sua vida.
Este rapaz sou eu. Apesar de conhecer sua triste história, não há nada que me faça querer estar com ela, pois isto implicaria em ainda mais sofrimento para todos nós.
Comecei a conversar com Sarah em uma dessas terapias em grupo. Ela mostrava-se tão forte, mesmo diante de todas as suas desgraças, que me chamou a atenção. Sonhei com ela, dei meus conselhos, pedi os dela, convidei-a para sair, e por mais que ela tivesse medo, depois de tudo o que lhe aconteceu, ela aceitou o convite. Nós nos divertimos bastante, eu esqueci dos meus problemas, ela esqueceu os dela, e posso dizer que vivemos dias muitos felizes.
Mas aquilo acabou. Quando eu estava começando a gostar dela de verdade, e pensando em tentar algo mais sério, eu recebi a visita.
Um homem de roupa de couro preta chegou em uma moto, abriu o capacete e me explicou tudo o que eu precisava saber. "A Sarah não é para você", ele disse.
Fiquei pensando em como eu iria resolver aquilo, mas eu vi uma coisa que me fez acreditar, e não tenho outra saída, senão aceitar seus termos.
Eu queria poder contar que ela ainda irá conhecer o homem dos seus sonhos, mas que ele não sou eu. Ela ainda não pode conhecê-lo, pois hoje ele é jovem demais para ela. Só daqui a uns quatro anos é que ela lhe daria alguma chance. 
Sim, eu tive um encontro com um homem que veio do futuro. Ele pediu para que eu me afastasse dela, senão aconteceria algo ruim, da mesma forma como aconteceu com os outros.
Fico feliz por ela. Sarah ainda estará em idade de se casar e ter filhos quando ele aparecer em sua vida, e ele será o marido mais dedicado, mais apaixonado que ela poderia desejar. Quem mais faria por ela o que esse rapaz está fazendo? Deve ser difícil ficar voltando ao passado para vigiar a futura esposa.
É claro que não vou contar a ela sobre a visita dele. A primeira coisa que ela diria é que estou arranjando uma desculpa esfarrapada para lhe dar o fora. Qualquer motivo que eu invente para me afastar dela será apenas uma confirmação daquilo que ela já pensa sobre si mesma: é uma mulher amaldiçoada. Então resolvi somente parar de procurá-la, pois isto deve fazê-la sofrer menos.
Eu já vi uma foto, de algo que só vai acontecer daqui a dez anos. Ele deixou cair do bolso quando foi embora, e foi o que me convenceu a aceitar a situação.  Ela estava feliz ao lado dele, e com filhos. 
Até conhecer este homem, tenha muita paciência, Sarah. O amor dói, mas tem suas recompensas. 
Posted by L.F. Riesemberg