quarta-feira, 7 de setembro de 2011



Cordel para Euclides da Cunha
GUSTAVO DOURADO
Euclides da Cunha, gênio
Escritor monumental...
Nordeste e Amazônia:
O Sertão é seu quintal...
Os Sertões é obra-prima:
Da cultura nacional...
Entusiasta do Brasil:
Pensamento social...
Jornalista e filósofo:
Verve temperamental...
Na veia a rebeldia:
Práxis consciencial...
Filho de Manoel e Eudóxia:
Nascido em Cantagalo...
Santa Rita do Rio Negro:
A vida veio abordá-lo...
Província do Rio de Janeiro:
Veio ao mundo num estalo...
Nasceu o grande escritor:
Na Fazenda da Saudade...
Foi um homem de ciência:
Lutou pela liberdade...
Sua vida foi difícil:
Sôfrega adversidade...
Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha:
O seu pai era baiano...
Eudóxia Moreira, a mãe:
De Euclides, célebre arcano...
Brasilidade na alma:
De um criador soberano...
Manuel ficou viúvo:
Em momento de agrura...
Para cuidar da família:
Sem esquecer a ternura...
Euclides e Adélia filhos:
Sangue da literatura...
Ano 1866:
Dia 20 de janeiro...
Nasceu Euclides da Cunha:
Pensador e engenheiro...
Revelador do massacre:
Do povo do Conselheiro...
Eudóxia morreu jovem:
Vítima da tuberculose...
Era o "Mal do Século"
Nos idos do Dezenove:
Euclides de lá pra cá:
A sua vida nos comove...
Repórter ..Engenheiro:
Sociólogo...Historiador
Aos três anos perdeu a mãe:
Foi grande a sua dor...
As tias lhe educaram:
Dando a ele muito amor...
Ano 1871:
Rosinda a lhe cuidar...
Após a morte da mãe:
Contratempo, outro lar...
Nova Friburgo,Cantagalo:
Com o pai a viajar...
Conceição de Ponte Nova:
Residiu quando menino...
Em São Fidelis morou:
Ainda bem pequenino...
Teresópolis no caminho:
Sofrimento no destino...
Na Fazenda São Joaquim:
Passa a primeira infância...
No Cinturão do Café:
A vida boa sem ânsia...
Precisava estudar:
Pra fugir da ignorância...
Cidade de São Fidelis:
A educação formal...
Francisco José Caldeira:
Professor de Portugal...
Iniciou os estudos:
No ensino colegial...
Ano 1877:
Via Rio de Janeiro...
O pai em dificuldade:
A causa era o dinheiro...
Logo no ano seguinte:
Tomou outro paradeiro...
Segue rumo à boa terra:
À capital Salvador...
No Colégio da Bahia:
Um ensino inspirador:
Escola Carneiro Ribeiro:
Do afamado professor...
Euclides Rodrigues da Cunha:
Volta ao Rio de Janeiro...
Vai morar com o tio Antônio:
No coração brasileiro...
Na capital do Brasil:
Euclides foi timoneiro...
Euclides estuda no:
Colégio Anglo-Americano...
Vitório da Costa,Menezes Vieira:
Estudo em primeiro plano:
Depois no Colégio Aquino:
Em um ritmo bem insano...
Ano 1883:
Sua vida a trans.formar...
Aluno de Benjamin Constant:
Matemática a calcular...
Positivismo em voga:
Euclides a se formar...
Freqüentou boas escolas:
Vontade para estudar...
Ingressou na Politécnica
E na Escola Militar...
Republicano ardoroso:
Foi um às ao protestar...
Desafiou o Ministro da Guerra
Tomás Coelho, na monarquia...
Atirou a sua espada:
Em ato de rebeldia...
Um cadete corajoso:
Buscava a soberania...
Conselho de Disciplina do Exército:
Euclides foi afastado...
Propaganda republicana:
Foi um homem revoltado...
Em O Estado de S. Paulo:
Seu nome foi consagrado...
A República proclamada:
Ao Exército reintegrado...
Euclides foi promovido:
Era nome respeitado...
Na Escola Superior de Guerra:
Tenente bacharelado...
Bacharel em Matemáticas:
Ciências Físicas e Naturais...
Chegou a primeiro-tenente:
Sentimentos nacionais...
Casou-se com Ana Emília:
E padeceu muitos ais...
Ano 1891:
A Escola de Guerra deixou...
Na Escola Militar:
Adjunto, ensinou...
Influência positivista:
No coração prosperou...
Ano 1893:
Consciente se engenhou...
Estrada de Ferro Central do Brasil:
Sua arte praticou...
Foi um homem de ação:
Sempre se determinou...
Insurreição de Canudos:
Dois artigos escreveu...
Ano 1897:
Canudos não se rendeu...
Convite d'O Estado de S. Paulo:
Na luta se empreendeu...
Presenciou o conflito:
O seu lado desumano...
Covardia oficial:
O terror do desengano...
O massacre de um povo...
Foi um ato vil tirano...
Outros livros publicou:
À Margem da História...
Castro Alves e Seu Tempo:
Foi um discurso de glória...
Contrastes e Confrontos:
Não deu mão à palmatória...
Escreveu Um Paraíso Perdido:
Canudos(Diário de Uma Expedição)...
Os Sertões se sobressai:
É obra de elaboração...
Fez Peru Versus Bolívia:
E versos de conflagração...
Uma vida de conflitos:
Drama e dificuldade...
Euclides sobrevivia:
Ante a contrariedade...
Foi morto por Dilermando:
Que não teve piedade...
Levou um tiro nas costas:
Em bárbaro assassinato...
Morreu o pensador:
A história aqui desato...
Euclides merece glórias:
Pois é um herói de fato...
Euclides nos revelou:
O valente sertanejo...
Psicologia, costumes;
Em sua obra eu vejo:
Grão-mestre da literatura:
Não é mero relampejo...
Na Academia Brasileira de Letras:
Teve o nome consagrado...
Tornou-se uma legenda:
Merece ser cultuado:
Sua obra é respeitada:
Está no nível de Machado...
Defensor da Natureza:
Precursor da Ecologia...
Criativo, luminoso:
Era ás no que fazia...
Destaque entre os melhores:
Foi crítico da tirania...
Pesquisador, cientista:
Poeta de qualidade...
Foi-se o homem, fica a obra:
Buscador da liberdade...
Exemplo para o Brasil:
Herói da nacionalidade...
Homenagem de Gustavo Dourado a Euclides da Cunha...
No centenário de morte do mestre de Os Sertões...
Euclides é um dos herós de nossa nacionalidade tupiniquim.
Foi precursor da ecologia e grande amante da natureza.












CRÔNICA DE RUBEM BRAGA PUBLICADA EM 02/09/1949 NOJORNAL DIÁRIO DE NOTÍCIAS, DO RIO DE JANEIRO - RJ.
UM MORTO
Os que há algum tempo fazem o favor de ler o que escrevo, sabem como sou contrario ao
trato, na imprensa, de assuntos que se ligam à vida íntima de alguém. Acho que nem a paixão
pessoal nem a política justificam isso.
Tendo resolvido comentar a atitude agora assumida pelo coronel Dilermando de Assis, não
me afasto dessa linha. Pelo contrario, venho somente, como já fiz de outras vezes, trazer o
meu apelo aos colegas de profissão que dela se desviam para agasalhar, em suas colunas,
matéria tão lamentável. Estou certo de interpretar o sentimento dos setores mais representativos
da imprensa e da literatura brasileira ao manifestar o profundo mal-estar e o vivo desgosto
que está causando a publicação em um vespertino carioca das memórias e explicações
do coronel Dilermando de Assis com referências a Euclides da Cunha.
Esta minha crônica é publicada, no Rio, no jornal que é, precisamente, de todos os órgãos
da imprensa brasileira, o mais lido por oficiais do Exercito. Sei, de meu trato com muitos
desses oficiais, o quanto é estimado o coronel Dilermando de Assis, pelas suas qualidades
de militar e de homem, entre seus companheiros de farda. Venho por isso mesmo apelar
para os oficiais superiores, que lhe são mais próximos, no sentido de demover o coronel
Dilermando de Assis de sua Intenção de continuar, na imprensa, o trato de assunto tão penoso.
Segundo tudo o que sei, o coronel Dilermando de Assis, ao matar ao matar Euclides da Cunha
e seu filho, agiu sempre em legítima defesa. Isso foi reconhecido pela Justiça, e de ambas
as vezes ele foi absolvido. Não consigo compreender o motivo pelo qual tantos anos
decorridos, e sem nenhuma provocação, ele vem a público para atacar as suas vítimas.
Se a fatalidade o levou a privar o Brasil de um de seus espíritos mais altos e de um de seus
patriotas mais profundos, seria exagero lhe pedir, para sua vítima, a simples homenagem
cristã do silêncio ? Seria exigência lhe pedir que não viesse agora dizer, sobre o caráter e a
personalidade de Euclides essas coisas lamentáveis que está dizendo? Coisas desse teor
íntimo não se deve dizer publicamente de um vivo - e definitivamente não se dizem de um
morto, que nem sequer deixou quem o pudesse defender.
Recusamo-nos, por isso, a aceitar esse retrato de Euclides que se nos oferece agora o homem
que seria o último a ter o direito de julgá-lo. Não conhecemos pessoalmente o coronel
Dilermando de Assis nem nos supomos no direito de fazer qualquer julgamento sobre sua
pessoa . O que lhe pedimos não é muito: que respeite um morto. Esse morto pertence ao
Brasil, que nele venera um dos seus maiores e mais infelizes servidores.
Pensamos bastante antes de escrever esta crônica; e nos sentiríamos mal com a nossa consciência
se, por comodismo, fôssemos calar esse protesto. Sabemos perfeitamente o quanto é
delicado este assunto e a ele não desejamos de forma alguma voltar. Junto com o nosso protesto,
deixamos aqui um veemente apelo ao coronel Dilermando de Assis para que cesse
essas publicações. Elas são, por todos os motivos, um desserviço ao Brasil, porque afligem
os espíritos e despertam, antes de mais nada, um indizível e profundo mal-estar